As flores do mês * Setembro

Sem mais nada...

Amo as horas sombrias do meu ser

Amo as horas sombrias do meu ser

em que os meus sentidos se aprofundam;

nelas encontrei, como em velhas cartas,

o meu dia a dia já vivido,

ultrapassado e vasto como uma lenda.

Elas me ensinam que possuo espaço

p´ra uma intemporal segunda vida.

E por vezes sou como a árvore

que madura e rumorosa, sobre uma campa

cumpre o sonho que a criança de outrora

(abraçada por suas cálidas raízes)

perdeu em tristezas e canções.

Rainer Maria Rilke . Tradução de Ana Haterly

Bastarda, porquê?

Schinus molle . A frutificar em Lisboa

Esta Árvore recebe em Portugal o nome, um bocadinho ofensivo, Pimenteira-bastarda, a razão que levou os Portugueses a nomear de forma um bocadinho ofensiva uma árvore tão bonita, generosa e despretensiosa parece-me clara. Trazer do longínquo oriente a preciosa pimenta preta, a verdadeira e única, deu-nos água pela barba e moldou o rumo da história, não venham cá chamar pimenta a esta brincadeira de meninos que nós não brincamos, e pronto!

Mas, portugueses à parte, em todo mundo as bonitas e perfumadas bagas das Schinus, recebem o nome de pimenta-rosa, pimenta-do-Brasil, pimenta-do-Peru... E são utilizadas em inúmeras - mais ou menos sofisticadas - receitas culinárias, sem que com isso a pimenta preta se sinta de alguma maneira preterida. Existem (pelo menos) duas espécies de pimenteiras-rosa, uma originária do Brasil (Schinus terebinthifolius) e outra (Schinus molle), bastante comum em Portugal e com origem no Peru.

Out of Africa

Amaryllis belladonna L.

As flores da minha varanda a que tantas vezes chamo erradamente Amaryllis, pertencem na verdade ao género Hippeastrum, são o resultado de engenhosas hibridizações, feitas nas estufas holandesas com diferentes espécies do género Hippeastrum nativas da América do Sul. As verdadeiras Amaryllis são únicas, especiais e originárias da África do sul.

A confusão entre os dois géneros é bastante comum e reporta aos primórdios da taxonomia, chegou-se mesmo a pensar que o próprio Lineu as tinha confundido mas como se pode perceber neste texto (usem algum do vosso tempo para o ler todo porque vale a pena) Lineu não era homem para confusões, ao que tudo indica, foi mesmo inspirado pela beleza rústica das flores africanas que escolheu o nome da bela Amaryllis (personagem das Bucólicas de Virgílio) para nomear esta flor e toda a sua vasta família.

Na taxonomia actual o género Amarylllis é monotípico, ou seja tem uma única espécie que é a Amaryllis belladonna e pode ser vista por esta altura a florir nos nossos jardins. É também conhecida pelos nomes: Cape amaryllis (refere a sua origem na península do cabo da boa esperança), Naked lady (pela particularidade que este bolbo tem de florir numa altura em que não apresenta nenhuma folha) ou March lily o que traduzido para o hemisfério norte, seria qualquer coisa como Lírio de Setembro já que refere a particularidade de florescer no Outono ao contrário da maior parte das Amaryllidaceae que são flores da Primavera.

As fotografias, tiradas hoje de manhã no Jardim da Estrela em Lisboa não fazem devida justiça à beleza das Amaryllis belladonna, fica desde já registado mais um local a visitar: As encostas rochosas da península do cabo da boa esperança, em Março, para ver as Naked lady em liberdade.

Manhãs de Lisboa

Chorisia speciosa . hoje no Jardim da Estrela

Se as árvores fossem gente... As Corísias eram nuvens

Só elas...

A Ana tem razão, os blogs de mulheres são uma chatice (o meu incluído, jamais seria leitora do hemisfério feminino do Blog de Cheiros), a blogosfera no feminino é uma seca e não me interessa nada.

Mas desarmam-me completamente as mulheres, quando fazem o que nenhum homem consegue fazer. Inesperadamente quando já não se aguentam mais suspiros, desabafos, afrontamentos e fotografias de sapatos estupidamente caros, até a mais chata das bloguistas num rasgo de espiritualidade superior, consegue escolher a frase, a imagem, o infindável texto, a história, a música, a sequência de mensagens, o link, a palavra.... Perfeitas no momento certo que, surpreendentemente, alteram o rumo da minha vida de forma irreversível.

Tocados pela natureza

John Burroughs e John Muir

"There are those who look at Nature from the standpoint of conventional and artificial life, - from parlor windows and through gilt-edged poems, - the sentimentalists. At the other extreme are those who do not look at Nature at all, but are a grown part of her, and look away from her toward the other class, -- the backwoodsman and pioneers, and all rude and simple persons. Then there are those in whom the two are united or merged, -- the great poets and artists. In them the sentimentalist is corrected and cured, and the hairy and taciturn frontiersman has had experience to some purpose. The true poet knows more about Nature than the naturalists because he carries her open secrets in his heart.

John Burroughs . "Birds and Poets"

"Let children walk with Nature, let them see the beautiful blendings and communions of death and life, their joyous inseparable unity, as taught in woods and meadows, plains and mountains and streams of our blessed star, and they will learn that death is stingless indeed, and as beautiful as life.. "

"God has cared for these trees, saved them from drought, disease, avalanches, and a thousand tempests and floods. But he cannot save them from fools."

John Muir

Em Beleza

 Tabebuia pentaphylla . Ipê rosa

Fotografia de Sonia A. Mascaro

Vamos lá então..... Se é para reentrar, vamos lá reentrar em beleza com uma das árvores mais bonitas do mundo.

Lamentavelmente perdi o nome do autor desta imagem, que adoro e que guardo já há algum tempo. Bom, bom, seria que ele, ou ela (o autor) um dia passasse por aqui e se desse a conhecer. 

Aproveito para dizer que o Blog de cheiros - sim, como diz (aqui) o J.R. do Sargaçal, os blogs a partir de certa altura ganham vida própria e dão-se a estes luxos - anda extremamente vaidoso por receber tantas visitas do Brasil. Já eu, acho essas visitas uma enorme alegria e uma grande honra, até porque para mim o Brasil é - entre muitas outras coisas - a terra maravilhosa onde as árvores são chamadas, respeitosamente, pelos seus nomes e não indistintamente por "uma árvore" como acontece em Portugal.

A isto é que eu chamo eficiência, em menos de dois dias está identificada a autora da fotografia. A Sónia, para além de autora do "Leaves of Grass"  e da fotografia, tem no seu jardim um Ipê rosa, dos mais felizes que tenho visto e já se sabe... Onde há uma árvore feliz, há certamente amor.

Ainda no sul

Que é como quem diz, encalhada na reentrada...

Mais para lá do que para cá

Este ano - desde que voltei de férias - ainda não não me apeteceu olhar para Lisboa. Tenho pena.

Deserto em mim

Caminho todas as tardes por estes quarteirões

desertos, é certo.

Mas nunca tenho a certeza

Se estou percorrendo o quarteirão deserto

Ou algum deserto em mim.

Manoel de Barros . do poema "Miudezas"

Domingo com Cegonhas

Mata do Duque . Santo Estevão

Agrícola

Quando mais não seja porque a paisagem precisa da agricultura. Bem hajam os agricultores que resistem às pressões imobiliárias.

Compton Verney

An Allee of 150 year-old Giant Sequoias, originally uploaded by serialplantfetishist.

Mais um jardim para acrescentar à lista dos Jardins a visitar.

Florir em Setembro

Ui! 

Isto promete...

As Flores de Setembro são as minhas preferidas... 

Em Kit

Clematis . DIY

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Dos Antípodas

Pittosporum crassifolium

Flor  *  Fruto

O nome Pittosporum, pitta (resinoso) e spora (semente), fica esclarecido logo que os frutos se abrem mostrando as sementes peganhentas. 

Esta pequena árvore originária da Nova Zelândia, floresce (por cá) em Março e está neste momento cheia de frutos, esperam-se sementes para breve. 

Vive feliz em locais ventosos e aguenta bem o ar do mar (mesmo o que eu preciso), vou andar de olho nela (prometo) não se vá dar o caso de começar a ter comportamentos invasores.

Diferenças

Pyracantha coccinea * Cotoneaster franchetii

Estes são dois géneros botânicos muito fáceis de confundir à primeira vista, até porque ambos têm várias espécies diferentes e muitos híbridos. 

O nome Pyrachanta, pyra(fogo) e akanthos (espinho), refere a principal diferença entre os dois géneros, as Piracantas têm espinhos agressivos e os Cotoneaster são totalmente inofensivos. De resto são muito semelhantes e ficam os interessados a saber que os frutos, (pequeníssimas maçãs) estão neste momento a amadurecer e vão ficar por aí para animar todo o Outono.

Existe um falso mito de que os frutos destas plantas são venenosos, a verdade é que muito poucas bagas são venenosas e estas utilizam-se até em doces, molhos e licores.

"Divorciando-se da natureza, os homens perderam a capacidade de consolo face ao horror (...). Quanto mais observamos, menos sentido tudo faz e mais desamparados nos sentimos."

Arturo Pérez Reverte . "O PINTOR DE BATALHAS"

Verão

Não posso

amar

mais claro

Jorge Sousa Braga . "FOGO SOBRE FOGO"

As Gralhas e a Araucária

Tenho uma inexplicável embirração com as pobres Araucárias, mas gostava de ver uma Mata de Araucárias, não consigo entender porque é que as Araucárias (por cá) são tão solitárias mas a verdade é que não me lembro de ver mais do que duas juntas. Já as Gralhas...

Lenda do Menino da Gralha

Do tempo em que o Forte da Ilha do Pessegueiro, era ocupado pelos Mouros se conta esta lenda. Um capitão mouro...

vivia no referido forte com um grupo de soldados, sua mulher e filhos. Tinha a seu cargo a defesa da fortaleza e o treino dos seus soldados. Sonhava, ele, fazer do seu filho (criança de 8 anos), um grande guerreiro, corajoso e forte, destemido e sanguinário. 

Porém o menino detestava as armas e fugia aos treinos a que o pai o submetia. Gostava muito de brincar e tinha um coração bondoso, tanto para com a gente como para todos os animais. Afeiçoou-se de tal maneira a uma gralha, que era ela o seu passatempo favorito. Onde estava o menino lá estava o pássaro, o pai enfurecido do seu desinteresse pelas artes da guerra, ameaçou-o de matar a gralha se ele não deixasse de brincar com ela. Então, uma noite quando todos dormiam o menino pegando na sua companheira gralha resolveu fugir para que seu pai não matasse a sua amiguinha.

Muitos dias se passaram. Todas as buscas foram em vão pois não encontravam o pobre menino. Chorava a mãe, arrependia-se o pai. Quando voltaram a ver o seu filho, já ele estava morto junto a uma fonte num vale, com a sua amiga gralha pousada no seu corpo, morta também. Desde ai, aquela fonte ficou conhecida como a "Fonte da Gralha". 

Nota: Esta fonte encontra-se debaixo da água da nova barragem, construída na herdade da Cabeça da Cabra, e muita gente ali residente se lembra perfeitamente dela 

fonte: Instituto de Estudos de Literatura Tradicional

(Tirado daqui)

René Magritte

Le Tombeau des Lutteurs . 1960

Óleo sobre tela 89x116 cm

Despassaradas

Perto da ilha (onde dizem que havia um pessegueiro) vim encontrar as Gralhas, está à vista o parentesco com os Corvos, mas assim a frio atrevo-me a afirmar que as Gralhas são umas grandes malucas e nada têm da seriedade e sabedoria dos Corvos.

Depois mostro, a ilha mais romântica da nossa costa, e as despassaradas.

Insanidade

Rumo ao sul... Numa paisagem totalmente dominada por apenas duas espécies de árvores (Pinheiros e Sobreiros), é aflitivo constatar que a doença dos Pinheiros é, literalmente, meio caminho andado para a desertificação.

Recordar