sexta-feira, 9 de maio de 2014

Uma lição de discrição e recato

 Tuberaria guttata

Sou uma jardineira preguiçosa a verdade é essa, sendo assim aproveito todo o trabalho que a natureza faz por mim. A chuva é a melhor das regas, o sol o melhor dos revigorantes, as folhas mortas depois de naturalmente decompostas são o melhor dos adubos e, como não podia deixar de ser, as flores espontâneas são as mais apetecidas num jardim onde se contempla mais do que se trabalha.

Mas não se julgue que isto de caçar e chamar a um jardim flores espontâneas é tarefa fácil, ao contrário das flores domesticadas que vivem para se exibir e receber mimos dos jardineiros, as flores espontâneas vêm ao mundo apenas com a missão de perpectuar a espécie e, obviamente, não se dão nada bem com os jardineiros que, a maior parte das vezes, lhes chamam ervas-daninhas e tudo fazem para acabar com a sua raça. Por estas e por outras quando estas bravas entram num jardim fazem-no discretamente e dá muito trabalho convencê las a ficar. 

A pequena Tuberaria guttata, uma das mais bonitas visitantes espontâneas do meu jardim é a grande especialista em passar desapercebida, custa acreditar nisto quando olhamos para estas fotografias que mostram uma flor de cores berrantes e forte contraste mas estas plantas têm a floração mais fugaz que eu conheço o que faz delas uma flor difícil de ver, as flores duram apenas breves horas, abrem de manhã e no início da tarde se as procurarmos já só conseguimos encontrar as suas pétalas caídas pelo chão (quando o vento não as leva), nessas breves horas de existência esta flor consegue, calculo, resolver  sem dificuldade o assunto da polinização e garantir a produção de sementes para o próximo ano. Diz quem sabe que em situações de crise (seja lá isso o que a Tuberaria quiser) esta menina é mesmo capaz de produzir sementes sem abrir as flores, cleistogamia chamam-lhe os entendidos.

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