sexta-feira, 22 de maio de 2015

Das palmeiras, que já vão sendo raras, ou se gosta ou se detesta


- Espanador do céu, repuxo de folhas - são  imagens que me sugere sempre a velha palmeira. E depois delas, não sou capaz de integrar aquela simetria verde na paisagem.
- Eu Gosto - teima um companheiro. - Agrada-me uma compostura assim, calma e correcta.
- Mas é impossível que o seu temperamento, cheio de altos e baixos, possa aceitar tanta monotonia -protesto.- No deserto, está bem. Falta lá tanta coisa, que mesmo uma palmeira dá jeito. Mas aqui!...
- Procuro na natureza não a equivalência das minhas paixões, mas a fuga a elas.
- Ah! eu não. Eu preciso de vez em quando de árvores desgrenhadas, despidas, mirradas e tristes como ascetas. Sou pelos carvalhos e pelos castanheiros. Uma floresta de árvores de folha permanente ofende-me. Preciso que a natureza, no Inverno, tenha tanto frio como eu.

(Coimbra, 26 de Fevereiro de 1947)
Miguel Torga . Diário IV

Mas vão deixar saudades, as velhas palmeiras.

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