quarta-feira, 13 de maio de 2015

Nas rosas

Hoje encontrei um  besouro-das-rosas (Cetonia aurata) refastelado numa das minhas primeiras Pierre de Ronsard do ano e lembrei-me disto e depois disto.
Porquê? porque este foi o besouro que chocou na janela de Jung naquela tarde de Maio em que... 


... Jung cita uma experiência clínica com uma jovem paciente que se mostrava psicologicamente inacessível, devido a seu extremo racionalismo cartesiano, e sua concepção “geometricamente impecável da realidade”. Ela (ou melhor, como dizia Jung, o seu animus) acreditava saber sempre melhor as coisas do que os outros.
“... após algumas tentativas de atenuar o seu racionalismo com um pensamento mais humano, tive de me limitar à esperança de que algo inesperado e irracional acontecesse, algo que fosse capaz de despedaçar a retorta intelectual em que ela se encerrara. Assim, certo dia eu estava sentado diante dela, de costas para a janela, a fim de escutar a sua torrente de eloquência. Na noite anterior ela havia tido um sonho impressionante no qual alguém lhe dava um escaravelho de ouro (uma jóia preciosa) de presente. Enquanto ela contava-me o sonho, eu ouvi que alguma coisa batia de leve na janela, por trás de mim. Voltei-me e vi que se tratava de um inseto alado de certo tamanho, que  chocou com o vidro, pelo lado de fora, evidentemente com a intenção de entrar no aposento escuro. Isto me pareceu estranho. Abri imediatamente a janela e apanhei o animalzinho em pleno voo, no ar. Era um besouro, da espécie da Cetonia aurata, o besouro-das -rosaa comum, cuja cor verde-dourada torna muito semelhante a um escaravelho de ouro. Estendi-lhe o besouro, dizendo-lhe: ´Está aqui o seu escaravelho´. Este acontecimento abriu a brecha desejada no seu racionalismo, e com isto rompeu-se o gelo de sua resistência intelectual. O tratamento pôde então ser conduzido com êxito”.

4 comentários:

josé luís disse...

:) bela fábula

Rosa disse...

Ou, a capacidade que um besouro verde tem de curar todos os tipos extremos de racionalismo cartesiano. ; )

Rosa disse...

Alimentando-se apenas de pólen... Convém acrescentar, não vá alguém pensar que ele pode danificar as Rosas.

Huguinho disse...

Entendo que a natureza devido a sua perfeição, quebra o que há de racional e desperta sentimentos bons guardados em nosso interior.