quarta-feira, 27 de maio de 2015

Ficar surdo, cego e mudo não serve!

Exmo. Senhor
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
Dr. Fernando Medina


Face à onda de intervenções radicais e devastadoras que as árvores de Lisboa têm sofrido nas últimas semanas - empreitadas de poda, abate e substituição de árvores de alinhamento e de jardim um pouco por toda a cidade, de Alvalade à Estrela, das Avenidas Novas a Arroios, da Graça à Ajuda, com menor ou maior grau de intensidade e número de árvores objecto das mesmas, com mais ou menos gravidade e grau de irreversibilidade, sob esta ou aquela justificação, não poucas vezes caricata, e outras tantas por razões que a razão desconhece - considera esta Plataforma recém-constituída ser seu imperativo dirigir-se ao novo Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, uma vez que nos parece ser tempo de se virar de página e da cidade partir para outro paradigma.

Porque entendemos que quando estão em causa valores tão nobres e elementares como a preservação de um património que temos a obrigação de legar às gerações vindouras, o direito à informação, os afectos, o respeito por todas as formas de vida, a qualidade de vida  e o bem-estar da população; ficar-se calado não serve!

É verdade que esta insensibilidade e este menosprezo pelo indispensável contributo dado pela árvore à cidade e por aqueles que as defendem não são de agora. Todos nos lembramos da destruição massiva de jacarandás nas transversais à Avenida da República e dos 153 plátanos abatidos nem há 10 anos no Campo Pequeno porque havia que implementar determinado projecto de paisagismo. Ou do “vendaval” no Vale do Silêncio, as “desmatações” de Monsanto e a “requalificação” do Príncipe Real, só para enumerarmos algumas reconhecidas más práticas. Mas é neste preciso momento que o flagelo assume proporções inauditas, com o confluir de uma série de constatações e de procedimentos menos claros (por exemplo, ajustes directos através dos quais é diagnosticado o estado do arvoredo - que compete aos serviços municipais e após parecer do Laboratório de Patologia Vegetal Veríssimo de Almeida – e se procede aos abates e às podas, e posteriormente ainda dentro do mesmo ajuste, se vendem os espécimes de substituição - cuja determinação a competência continua na esfera do Município e não das Juntas), a que importa obviar de uma vez por todas, Senhor Presidente, a saber:

As árvores não são podadas nem conservadas nem tratadas, quando doentes. Antes se mutilam, agridem, abatem e substituem como se fossem objectos de decoração descartáveis e sujeitos à ditadura da última moda, nem sequer respeitando a época mais propícia para as árvores e para a bio-diversidade que albergam. Há árvores de primeira (as estruturantes) e de segunda (as de alinhamento).

Não existem jardineiros, mas abundam os curiosos e os madeireiros de serra em punho, cujas intervenções deveriam ser adjudicadas com transparência, critério e sem conflitos de interesse, tantas vezes ao arrepio dos pareceres fitossanitários de entidade idónea e, ultimamente, ao abrigo do não exercício da prorrogativa de declarar esta temática como estruturante, delegando nas Juntas de Freguesia de forma a nosso ver errada e contraproducente, transferindo direitos a nível da gestão do arvoredo, mas esquecendo-se de transferir as boas práticas já regulamentadas, logo agora que aquelas ainda estão numa fase de auto-afirmação e de delimitação de território.

Continuam a não ser aplicados e cumpridos o Regulamento aprovado pela AML (51/AM/2012), que resultou da deliberação 102/CM/2009, nem o Despacho do 60/P/2012 do Senhor Presidente de CML de então, mas quando há um parecer sério que indica a necessidade de abater determinada árvore, logo esse mesmo parecer serve para uma dúzia de outras sãs.

Perdeu-se a boa-prática de consulta preferencial ao LPVVA, preferindo-se o parecer de empresas que depois procedem elas próprias à poda e ao abate no que se configura como procedimento a carecer de sindicância.

Cultiva-se a ignorância, acenando com pragas e alergias, velhice excessiva das árvores (quando árvores com 60 anos devem ser consideradas jovens)cataclismas inevitáveis e a corrosão da chapa. Alimenta-se o ódio instalado ao choupo, cipreste, plátano, freixo e, quiçá a breve trecho, à tília, à tipuana e ao jacarandá! Não se percebe de onde vêm os novos espécimenes que se plantam, mirrados e sem copa frondosa previsível que não por várias décadas, nem para onde vai a lenha que resulta de tudo isto. De uma assentada, como no caso recente da Av. Guerra Junqueiro, destrói-se a imagem até agora inalterável de um arruamento histórico com 60 anos.

Por isso esta nossa carta dirigida a V. Exa., Senhor Presidente, porque temos esperança que a sua juventude signifique irreverência, sensibilidade e vontade indómita em querer mudar o status quo que muitos presidentes antes não conseguiram mudar, pelas razões que cada qual saberá.

Os regulamentos existem e bastará cumpri-los, pois têm matéria suficiente para que os procedimentos de poda, abate e substituição de arvoredo se traduzam em boas práticas de arboricultura, motivo de orgulho para esta cidade, em contraponto com tantas outras onde continuam a aceitar práticas retrógradas, baseadas em mitos e inverdades.  Não aceitamos que Lisboa possa ser referida como um dos piores exemplos de gestão do arvoredo do país, quando tem todas as condições para ser exactamente o oposto, desde que corrija o que é preciso corrigir.

Estamos, como sempre estivemos, disponíveis e empenhados em colaborar com a CML e com o seu Presidente e os seus Serviços para que consigamos esse desiderato.

Conte connosco!
  
Lisboa, 26 de Maio de 2015


recém-formada "Plataforma em Defesa das Árvores":
Associação Árvores de Portugal
Associação Lisboa Verde
Fórum Cidadania Lx
GEOTA-Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente
Grupo de Amigos do Príncipe Real
Grupo dos Amigos da Tapada das Necessidades
Grupo Ecológico de Cascais
Liga dos Amigos do Jardim Botânico
Plataforma por Monsanto
Quercus

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Eles não sabem que o sonho

pinheiros altos na estrada da ameixoeira. Lisboa

é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

(...)
António Gedeão . em "Pedra Filosofal"

domingo, 24 de maio de 2015

Vão matar um pinheiro tão manso



"No Miradouro Sofia de Melo Breyner, o projeto prevê o abate de dois exemplares de Pinus pinea. O exemplar 1610173000001 é um exemplar bem conformado, atualmente com excesso de peso na copa que seria interessante de preservar." 
(no RELATÓRIO TÉCNICO DE AVALIAÇÃO VISUAL DE ARVOREDO . Câmara Municipal de Lisboa Direcção Municipal de Ambiente Urbano Departamento de Ambiente e Espaço Público Divisão de Manutenção de Espaços Verdes )

(...)
Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem

Sophia de Mello Breyner Andresen .  'Livro Sexto'

sábado, 23 de maio de 2015

Pouca coisa


sexta-feira, 22 de maio de 2015

Das palmeiras, que já vão sendo raras, ou se gosta ou se detesta


- Espanador do céu, repuxo de folhas - são  imagens que me sugere sempre a velha palmeira. E depois delas, não sou capaz de integrar aquela simetria verde na paisagem.
- Eu Gosto - teima um companheiro. - Agrada-me uma compostura assim, calma e correcta.
- Mas é impossível que o seu temperamento, cheio de altos e baixos, possa aceitar tanta monotonia -protesto.- No deserto, está bem. Falta lá tanta coisa, que mesmo uma palmeira dá jeito. Mas aqui!...
- Procuro na natureza não a equivalência das minhas paixões, mas a fuga a elas.
- Ah! eu não. Eu preciso de vez em quando de árvores desgrenhadas, despidas, mirradas e tristes como ascetas. Sou pelos carvalhos e pelos castanheiros. Uma floresta de árvores de folha permanente ofende-me. Preciso que a natureza, no Inverno, tenha tanto frio como eu.

(Coimbra, 26 de Fevereiro de 1947)
Miguel Torga . Diário IV

Mas vão deixar saudades, as velhas palmeiras.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

A minha faia


Fagus sylvatica purpurea

Quando for grande quer ser assim...

Os invasores da razão

Muito interessante este artigo que ousa questionar a condenação das espécies que são classificadas como invasoras pelos homens da ciência, em defesa do Ailanto (Ailanthus altissima (Mill.) Swingle).

Flores e livros

 Van Gogh . "Loendros" (1888) 
e um Livro de Zola . "A Alegria de Viver" (1884)

Romance and romanticism are of our time, and painters must have imagination and sentiment. Fortunately realism and naturalism are not free from it. Zola creates, but does not hold up a mirror to things, he creates wonderfully, but creates, poetizes, that is why it is so beautiful. So much for naturalism and realism, which are still connected with romanticism. 
Vincent Van Gogh . letter to Theo written some time in the fall of 1885>>

Sou considerado um escritor democrático, simpatizante do socialismo, mas não gosto de rótulos. Se quiserem classificar-me, digam que sou naturalista. Vocês espantam-se com as cores verdadeiras e tristes que uso para pintar a classe operária, mas elas expressam a realidade. Eu apenas traduzo em palavras o que vejo; deixo para os moralistas a necessidade de extrair lições. A Minha obra não é publicitária nem representa um partido político. A Minha obra representa a verdade.
Emile Zola

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Nas rosas

Hoje encontrei um  besouro-das-rosas (Cetonia aurata) refastelado numa das minhas primeiras Pierre de Ronsard do ano e lembrei-me disto e depois disto.
Porquê? porque este foi o besouro que chocou na janela de Jung naquela tarde de Maio em que... 


... Jung cita uma experiência clínica com uma jovem paciente que se mostrava psicologicamente inacessível, devido a seu extremo racionalismo cartesiano, e sua concepção “geometricamente impecável da realidade”. Ela (ou melhor, como dizia Jung, o seu animus) acreditava saber sempre melhor as coisas do que os outros.
“... após algumas tentativas de atenuar o seu racionalismo com um pensamento mais humano, tive de me limitar à esperança de que algo inesperado e irracional acontecesse, algo que fosse capaz de despedaçar a retorta intelectual em que ela se encerrara. Assim, certo dia eu estava sentado diante dela, de costas para a janela, a fim de escutar a sua torrente de eloquência. Na noite anterior ela havia tido um sonho impressionante no qual alguém lhe dava um escaravelho de ouro (uma jóia preciosa) de presente. Enquanto ela contava-me o sonho, eu ouvi que alguma coisa batia de leve na janela, por trás de mim. Voltei-me e vi que se tratava de um inseto alado de certo tamanho, que  chocou com o vidro, pelo lado de fora, evidentemente com a intenção de entrar no aposento escuro. Isto me pareceu estranho. Abri imediatamente a janela e apanhei o animalzinho em pleno voo, no ar. Era um besouro, da espécie da Cetonia aurata, o besouro-das -rosaa comum, cuja cor verde-dourada torna muito semelhante a um escaravelho de ouro. Estendi-lhe o besouro, dizendo-lhe: ´Está aqui o seu escaravelho´. Este acontecimento abriu a brecha desejada no seu racionalismo, e com isto rompeu-se o gelo de sua resistência intelectual. O tratamento pôde então ser conduzido com êxito”.

domingo, 10 de maio de 2015

Grupo Antigo


Há em frente ao meu quarto um roble, — uma floresta
Num tronco só. Podia ali dormir a sesta
À sombra Adamastor. Uma vide gigante
(A vide era a serpente e o roble era o elefante)
Enroscou-lhe, atirou-lhe os seus braços violentos,
E, subindo e trepando a todos os momentos,
Um século gastou para ao alto chegar.
O roble enche um celeiro e a vide enche um lagar.
E a vide de tal forma o carrega, o inunda
Co’a riqueza brutal, co’a fartura jucunda
Dos festões de verdura opípara e frondosa,
Que eu nas áureas manhãs de Março, cor-de-rosa,
Julgo por entre o Sol e entre as névoas ligeiras
Ver Hércules a rir com Baco às cavaleiras!
[…]

Guerra Junqueiro . "A Musa em Férias"

sábado, 9 de maio de 2015

Temos de assinar

E com isso provar que ainda existem pessoas civilizadas em Lisboa

E mais uma vez



A seriedade é uma doença e o mais sério dos animais é o burro.
Camilo Castelo Branco

(Prometo tentar não levar isto a sério)

sexta-feira, 8 de maio de 2015

A minha opinião sobre organismos públicos que têm a competência de gerir e assegurar a manutenção de espaços verdes e de árvores sem fazer a mínima ideia de como é que isso se faz



Como CEO deste blogue instaurei e faço por cumprir uma rigorosa política de conteúdos que proíbe a publicação de imagem violentas de árvores estropiadas ou arrancadas pelas várias Juntas de freguesia  em Lisboa. Tenho ainda que cumprir normas superiores - do Big Boss Blogger - no que diz respeito a "discurso de ódio" e por isso também não me é permitido expressar verbalmente a minha opinião sobre organismos públicos que têm a competência de gerir e assegurar a manutenção de espaços verdes e de árvores sem  fazer a mínima ideia de como é que isso se faz. 
Mas como CEO deste blogue posso não cumprir as regras sempre que me apetece e por isso aqui fica a imagem de um freixo podado ontem pela Junta de Freguesia do Areeiro numa Av. de Lisboa (Guerra Junqueiro). Quanto ao discurso de ódio... Acho que vou cumprir as ordens superiores.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Ruderal

Ruderal (do latim: ruderis; "entulho") é a designação dada em ecologia às comunidades vegetais que se desenvolvem em ambientes fortemente perturbados pela acção humana, como seja cascalheiras, depósitos de entulho, aterros, bermas de caminhos e espaços similares. Por extensão, designam-se por "plantas ruderais", ou por "vegetação ruderal", as espécies e as comunidades vegetais típicas desses ambientes.

Vamos proteger a vida silvestre nas cidades?

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Novas folhas

(se alguém arrisca identificar esta árvore apenas pelas folhas... Agradece-se)

terça-feira, 5 de maio de 2015

As Velhas Árvores

Mangueira (Mangifera indica L.) no Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Olha estas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas, quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas... [tempestades]

O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:

Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

Olavo Bilac

Bateu uma saudade...

domingo, 3 de maio de 2015

Uma árvore


Por alguma razão que desconheço, quando este terreno no Vale do Jamor foi alcatroado para fazer um parque de estacionamento que hoje em dia está abandonado, uma árvore, um Choupo, foi poupado e aí vive até hoje. Apesar de ser uma árvore excepcional em vigor e tamanho nunca houve a preocupação de lhe fazer nem uma caldeira por isso ela vai vencendo a força do betão com os meios que tem à sua disposição, mas não parece ressentir-se da falta de respeito e atenção de que tem sido alvo. Deixaram-na viver e uma árvore, afinal, não precisa de muito mais para ser feliz.

sábado, 2 de maio de 2015

Da vida da cidade

Tenho para mim, e para quem quiser, a certeza de que uma cidade em que o ser vivo mais antigo não é uma árvore é apenas um projecto de cidade. Ou uma ruína.

Coisas de Maio


sexta-feira, 1 de maio de 2015

Safadas

Orobanche L.

Classificar correctamente uma Orobanche é uma tarefa muito complicada e pouco aconselhada a botânicos das horas vagas como eu. Se no mundo vegetal existissem vigaristas este era provavelmente o seu género botânico preferido. As Orobanche são flores dissimuladas, misteriosas, parasitas*, calculistas na escolha dos locais e das companhias, vaidosas, avarentas... Tudo isto sem nunca esquecer que a sedução é fundamental para atingirem o fim a que se propuseram: Viver! 
E só por essa lição de amor à vida, e por serem tão bonitas, estão perdoadas.

*São as plantas parasitas ou HOLOPARASITAS (parasitas totais) que perderam por completo a função fotossintética. As folhas são desnecessárias e estão reduzidas a pequenas escamas amareladas ou desapareceram por completo. A transpiração foliar é nula e também os orgãos de transporte de água, como o xilema, são muito reduzidos ou não existem, assim como as raízes. As plantas parasitas desenvolveram orgãos de sucção especiais, que penetram nos feixes condutores da planta hospedeira, os haustórios, que utilizam directamente do floema a matéria orgânica sintetizada pelo hospedeiro, não havendo por isso necessidade de realizar a função fotossintética. Muitas espécies parasitas são subterrâneas ou vivem dentro dos tecidos de outra planta (hospedeiro) e só na altura da floração se tornam visíveis para o exterior, desenvolvendo algumas flores de cores lindíssimas.
em . Naturlink

Fim do dia no Jamor