Eça e as flores (1)
O grão-duque, numa silva de orquídeas que orlava o seu talher, notara uma, sombriamente horrenda, semelhante a um lacrau esverdinhado de asas lustrosas, gordo e túmido de veneno: e muito delicadamente ofertara a flor monstruosa a Madame d´Oriol, que, com trinado riso, solenemente, a colocou no seio. Colado àquela carne macia, de uma brancura de nata fina, o lacrau inchara, mais verde, com as asas frementes. Todos os olhos se acendiam, se cravavam no lindo peito, a que a flor disforme, de cor venenosa, apimentava o sabor. Ela reluzia, triunfava. Para ajeitar melhor a orquídea os seus dedos alargaram o decote, aclararam belezas, guiando aquelas curiosidades flamejantes que a despiam.
Eça de Queiroz . "A Cidade e as Serras"
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