terça-feira, 7 de maio de 2013

Da jardinagem subtractiva

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Há muito que em Portugal, pelo menos nas maiores cidades, deixou de haver jardinagem em espaços públicos. Os recintos universitários não são alheios a esse mal: os (impropriamente denominados) jardins que rodeiam os edifícios são na verdade extensos relvados, com meia dúzia de árvores proibidas de crescer plantadas aqui e ali com manifesta relutância. Em vez de jardineiros, há empresas de manutenção de espaços verdes que vêm aparar a relva duas vezes por mês e, uma vez por ano, podar as árvores para as fazer regressar às dimensões que tinham um ano atrás. É uma "jardinagem" toda subtractiva: poda, arranca, limpa, apara; nunca acrescenta uma flor, um arbusto, um canteiro. Para quê pagar um serviço tão triste, tão destrutivo e tão desqualificado? Se não há jardins nem gosto em mantê-los, então o orçamento em jardinagem deveria ser próximo de zero. Para evitar que o relvado se transformasse num mato eriçado, bastaria cortá-lo quatro ou cinco vezes por ano. Além da poupança orçamental, ganhar-se-ia um jardim com flores silvestres; e as árvores, livres do ritual da poda, poderiam finalmente fazer-se adultas.
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Paulo Araújo . "Dias com árvores"

1 comentário:

Anónimo disse...

Já tinha lido.
Excelente.
Tão bom.