Mirabilis jalapa L.
Calculo que o Sr. L. não nomeou todas as plantas com o mesmo estado de espírito, suponho que teria as suas favoritas e que por vezes se deixava fascinar pelo perfume, pelo reflexo do sol numa pétala ou por outra qualquer trivialidade que as flores tão bem sabem utilizar para confundir os humanos, porque o Sr. L. apesar de ter em mãos a tarefa divina de nomear todos os seres vivos era humano. Quando, a esta flor que só desvenda a sua beleza a determinadas horas do dia, decide chamar Mirabilis jalapa, o Sr. L. estava com toda a certeza apaixonado por ela, só assim se justifica este nome inesquecível, digno de uma heroína numa obra do Realismo Fantástico Latino-americano.
"Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
Ou flecha de cravos que propagam fogo;
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e
Leva dentro de si, oculta, a luz daquelas flores.
E graças a teu amor, vive oculto em meu
Corpo o apertado aroma que ascende da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde.
Te amo diretamente sem problemas nem orgulho;
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim, deste modo, em que não sou nem és.
Tão perto de tua mão sobre meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com
Meu sonho..."
Pablo Neruda . Cem Sonetos de Amor (1959)