sábado, 27 de outubro de 2007

Poema da flor no seu vaso

CAMÉLIA


Busco nas flores o apelo carinhoso
como o prisioneiro da ilha do diabo que acariciava as escolopendras.

As flores já não se usam
mas olhadas daqui, por entre as grades,
são corpos disponíveis que aceitam e se oferecem.

Aqui, a sós, onde ninguém me ouve,
nem vê, nem sente, nem sequer suspeita,
poderei olhá-las como os enfeitiçados
olham,
e em silêncio falar-lhes,
sem palavras,
apenas com o mover das sobrancelhas.

(...)

Acaricio a flor no seu vaso de plástico
e vou
Vou por aí.

António Gedeão . " Novos poemas Póstumos" 1990

2 comentários:

Anónimo disse...

qualquer comentário a este e aos anteriores posts seria supérfluo. nada tenho a dizer, apenas muito a contemplar. obrigado pelos objectos de contemplação, generosidade sua.

A Lusitânia disse...

Que bela a tua colecção de cheiros!
Quase me lembrei do lvro da Lourdes Castro com os desenhos do seu jardim.