Hakea Laurina
Em todos os jardims existe uma árvore que conquista as crianças que por lá, brincam, passam, sonham... Quem não se lembra de ter tido uma árvore favorita quando era criança?
Os meus filhos têm A "casa-árvore", é (acreditava eu) uma Acácia sem grande história que cresceu de uma forma estranha e constitui um local ideal para todo o tipo de brincadeiras.
Se eu fosse fundamentalista já a tinha cortado com medo das terríveis invasões de que tanto se ouve falar, mas isso será assunto para outro post em que pretendo aqui falar das Acácias.
O que aconteceu foi que este ano pela primeira vez a "Acácia" floriu, foi uma agradável surpresa tinha flores enormes (para Acácia) e surpreendentemente divertidas, cheguei a pensar se seriam influência de tanta brincadeira da pequenada. Fotografei e comecei a procurar um nome mais específico ainda do que Acácia ou Casa-Árvore, foi aí que tive outra surpresa. Existem mais de seiscentas espécies de Acácias e não havia maneira de encontrar alguma com flores semelhantes à minha.
Lembrava-me vagamente de ter visto algo semelhante aqui e mandei um SOS o resultado é como se pode ver, o mundo é pequeno e foram mesmo os meus amigos de sempre que resolveram o problema, não era uma Acácia afinal, mas a verdade é que a casa-árvore está mais bonita do que nunca.
As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.
Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.
As árvores não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
a crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós
e entretanto dar flores.
António Gedeão