quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O Bosque dos 100 Acres

Quando fico com muitas saudades de ver árvores felizes, arranjo maneira de dar um saltinho ali aos Kew gardens - é dos meus saltinhos preferidos, um dia passado por lá faz-me voltar de alma renovada e cheia de esperança na humanidade. Se existem árvores tão acarinhadas, então é porque afinal os homens são sensíveis.

Quase tão bom como ir visitar as árvores felizes dos Kew Gardens, é recordar o meu livro preferido de sempre.


“Joanica-Puff” de A. A. Milne e ilustrações de E. H. Shepard (Londres 1926)
Com literatura infantil desta, não admira que as árvores Inglesas estejam felizes.

“O porquito vivia numa grande casa dentro de uma árvore e a árvore era dentro da floresta e o porquito dentro de casa. Ao pé da casa, havia uma tabuleta partida onde estava escrito “PROIBIDO A”. Quando Cristovão Robim perguntou ao porquito o que aquilo queria dizer, ele respondeu que era o nome do seu avô, e que pertencia à família já há muito tempo. Cristovão Robim disse que não havia ninguém que se pudesse chamar Proibido A, e o porquito disse que sim, que havia, porque o avô chamava-se assim, e que era abreviatura de Proibido And, o que por sua vez era uma abreviatura de Proibido Andrade.”

A Disney como sempre (uma excepção, a Alice no País das Maravilhas que dificilmente chegaria às crianças de outra maneira) arranjou maneira de estragar esta obra-prima da subtileza.

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu partilho muito da sua opinião. Não obstante as cidades industriais, a Inglaterra (generalizando, o Reino Unido), parece ser um lugar encantado. Brumoso, sempre verde, e com habitantes muito conscientes, sobretudo na "countryside". Sei que os lavradores ingleses, quando lavram a terra, param os tractores quando se deparam com um mocho ou coruja bebé no caminho da lavra, pegam neles com o maior cuidado que alguma vez vi, e colocam-nos na bordadura da floresta limítrofe. Este é apenas um dos exemplos com que sempre fico atónito de emoção. Sei também que as leis de protecção da natureza, principalmente as que se destinam ao património arbóreo, quase não existem...tão simplesmente porque não são precisas...quando há alguma mancha de árvores, ou uma árvore monumental, em perigo, os habitantes locais, e os demais, mobilizam-se sem sequer pedirem intervenção estatal - eles sabem que o Estado não pode prover a tudo e a todos - e que o património de uma comunidade é, antes de mais, responsabilidade dessa comunidade. É incrível verificar esta consciência naquele país, mesmo entre as gentes "menos letradas". Por último, e a respeito do mundo infantil cultivado pelos ingleses, chamo a atenção para os desenhos animados. Se nos sentarmos frente à nossa televisão, nomeadamente aos canais da RTP, verificaremos de que país de origem provêem os desenhos animados actuais que mais consciência sobre a natureza cultivam. São, igualmente, os desenhos animados mais calmos e que menor recurso fazem à violência implícita ou explícita, por oposição ao modelo de animação canadiano-estado-unidense (em que mesmo o tema "ecologia" aparece sob parâmetros do consumismo), ou ao modelo nipónico-coreano (cuja arte se vende ao imediato). Para terminar, lembro qual o país onde nasceram as primeiras associações de defesa ambiental (na altura, destinadas às aves em perigo): é o mesmo onde a jardinagem, a par do futebol, é um assunto muito sério. Eu sempre vivi em Portugal, e nunca saí dele. Quando encontrei um castanheiro monumental (com 12, 50 m de perímetro circunferencial), num bosque que não era percorrido há 50 anos, aqui no lugar onde moro, e o candidatei a patrimonio, confesso que fiquei surpreendido com a reacção dos proprietários. Estes, que desconheciam o seu terreno e o bosque, de tanto tempo abandonado que estava, não autorizaram a classificação, julgaram que eu os havia incriminado às autoridades por falta de zelo (quando tal não era sequer minha intenção nobre), e expulsaram-me. Os classificadores, da D.G.Recursos Florestais, anuiram com os proprietários. Retirei-me do caso com a certeza de que o burro havia sido eu: eu já devia ter emigrado para Inglaterra, país e língua que conheço o suficiente para nele viver.

Rosa disse...

Mas vamos ficando por cá, e pode ser que um dia, até, consigamos ver alguém a salvar um mocho ou uma coruja que por azar esteja no caminho da lavra. Era bom.