sábado, 26 de maio de 2007


Subordinado ao tema " O Lixo na arte dos Jardins" decorre em Ponte de Lima o Festival Internacional de Jardins. Confesso que o tema, da forma como é apresentado, não me entusiasma. As palavras, arte e lixo, fazem-me temer um tipo de abordagem já bastante gasto e pouco fértil. As garrafas de plástico, as embalagens, a sempre politicamente correcta reciclagem... E muito pouca atenção ao que deve de facto ser um jardim.


Numa visita ao site do Festival, pude constatar com alívio que alguns participantes, desenvolveram conceitos muito interessantes, é o caso projecto do Arquitecto Laurent Bonne - AS PLANTAS RECICLAM


"Aqui as plantas são colectores de lixo - filtram as substâncias químicas nas suas fibras tornadas resistentes.(...) dois jardins foram plantados: um para plantas que filtram o ar e outro para plantas que filtram a terra.

À direita, o girassol, Helianthus annuus, tem a capacidade de digerir o chumbo no solo dos locais anteriormente ocupados por indústrias pesadas. O tabaco, Nicotiana alata, consegue armazenar o cádmio. A mostarda, Sinapis arvensis, tem a capacidade de absorver o gasóleo. E, finalmente, a grama, Agropyrum repens, que consegue filtrar o zinco. As fibras cheias de poluentes devem ser imediatamente cortadas, incineradas e as cinzas processadas.

À esquerda, os crisântemos, Chrysanthemum, purificam os solventes provenientes de colas, tintas ou de feltros. Os clorofitos, Chlorophytum, retêm o gás tóxico formaldeido, presente nos painéis de partículas dos nossos móveis. O falso papiro, Cyperus diffusus, absorve as toxinas no nosso ar interior, poluído pelos produtos domésticos, as tintas, os plásticos. Estas plantas podem ajudar-nos a reabsorver estes produtos tóxicos irritantes, alergénicos e até cancerígenos.

O mundo é um vasto ecossistema que inclui os nossos resíduos químicos. Houve um tempo em que a natureza morria ao entrar em contacto com estes novos elementos químicos agressivos. Depois desenvolveu meios de defesa e de reabsorção da poluição para formar ecossistemas reparadores. Estas considerações despoluidoras levam-nos a mudar de ponto de vista em relação às plantas e reforçam o espírito de simbiose entre os nossos ciclos de vida compartilhada, naturais e artificiais."

Destaque ainda para o projecto LIXO-A ARTE É EVITA-LO concebido pela - Associação Portuguesa de Produtores de Plantas e Flores Naturais- que oportunamente lembra "um jardim sem desperdícios não produz lixo"



5 comentários:

Anónimo disse...

Tive exactamente a mesma reacção: um pouco desapontada pelo tema e depois (de dar uma espreitadela) fiquei extremamente interessada e estou desejosa de conhecer os projectos/jardins!

Anónimo disse...

Eu estive lá e tive uma agradável surpresa. É incrível a capacidade criativa das pessoas. Como de um tema que nos pode parecer, à partida, menos interessante ou, como aqui se disse, demasiadamente explorado no sentido das "lições" diárias que nos invandem de todos os lados, se chega a trabalhos de grande expressão plástica, com jardins integrados de forma magistral e muito bem conseguida.
Aconselho vivamente a visita pois vale bem a pena!

Rosa disse...

O que é (digo eu) incrível num jardim é a capacidade criativa da natureza e a sua grande "expressão plástica" (para usar as suas palavras).

Anónimo disse...

Voltando às "minhas" palavras que, tal como a natureza, são de todos, referi-me à "expresssão plástica" não querendo evidenciar sobremaneira a intervenção humana - pelo contrário, o conjunto e a interacção entre natureza / criadores. Nunca me passou pela ideia sobrevalorizar a intervenção humana e desprezar a natural. Porque eu só gostei dos jardins... Será que fiz mal?

Rosa disse...

Mal? Claro que não! Como diz um amigo meu "todos temos um jardim nosso, só que às vezes nem sabemos..."
vivam os jardins.